domingo, 2 de dezembro de 2012

E eu fiquei aqui.


O celular não atendia. Desisti de tentar. Já devia ser a trigésima chamada. Ou mais.
Eu  tenho esse problema. Não sei aceitar bem as coisas. Parece que até eu entender, eu ajo como se nada tivesse acontecido.
Há alguns dias as coisas não estavam bem.
Brigas, dor, lutas, dificuldades.
Hoje me peguei chorando.
Arrependida por tantas coisas que disse, e que ouvi também.
Quando tem um ponto final, sempre é um impacto forte.
Mas eu queria voltar atrás, ou poder seguir, qualquer coisa.
A inércia estava me matando.

Estava na porta do prédio dele.
Rodava o chaveiro nos meus dedos.
Estava sem coragem pra subir.

Ele havia me dado a chave, para o nosso conforto, dizendo que se um dia,
acontecesse alguma coisa, eu poderia estar segura ali.
Me perguntava agora se poderia achar segurança lá.

Mais uma lágrima escorreu.
Respirei fundo.
Entrei.
Passei direto pela portaria.
O porteiro estava cansado de me ver ali.
Chegava de madrugada, cedo, tarde...
Me deparei com o elevador e veio uma lembrança nossa.
As diversas vezes que eu reclamava de quando você tentava me agarrar
durante a rápida viagem do primeiro ao quarto andar. Eu ficava envergonhada só de pensar
na possibilidade de algum vizinho seu pegar o elevador e nos flagrar.
Um meio sorriso brotou, seguido de mais choro.
Tudo que eu queria era você ali, me agarrando nesse momento.

Saltei no quarto andar. Estava escuro. Acho que alguma luz queimou.
Não costumava ser assim ali.
Do corredor mesmo senti o cheiro do seu apartamento.
Um cheiro amadeirado.
Era uma mania sua. Sempre colocar o perfume, com pressa, pouco antes de sair.
Impregnava a sala.
E agora me invadia.
Me invadia de saudade.

Coloquei a chave na porta receosa. Queria apenas buscar algumas coisas.
Seria rápida.
Lembrei das várias vezes que você esqueceu a chave na porta, e eu não consegui entrar,
e ficava me provocando, me deixando trancada do lado de fora, enquanto eu dava chiliques.
É curioso como essas pequenas coisas marcam tanto.

Rodei a chave. O apartamento se revelou para mim.
Roupas jogadas na sala. Janela entreaberta. livros espalhados.
Eu não sabia mais o que eu fui fazer ali.
Por um segundo eu lembrei da nossa última briga e tive vontade de sair correndo de lá.
Mas não consegui.  Estava paralisada.

Passei pela sala e fui para o quarto.
Seu perfume estava vívido ali.

Cheguei no quarto e vi a cama desarrumada.
Não esperava mesmo vê-la arrumada.
Era eu, quando estava na sua casa, quem a arrumava pra você.
E agora? Como seria?

Sentei na cama que chamávamos de nossa.
Deitei a cabeça no travesseiro, com dor no coração.
Na cadeira estava o meu vestido floral que você amava me ver usando.
Ele devia estar ali desde a última vez que eu estive aqui.
Antes de tudo isso.
Entre lágrimas abri o seu armário e fui pegando todas as minhas coisas.
Roupas, cremes, perfumes...
Achei uma foto nossa.
Em um aniversário. Você fazendo careta.
Lembro quanto me irritava quando você fazia isso.
Mas a foto ficou realmente boa.
Levarei  ela comigo.
 Coloquei no meio das roupas que eu enfiava na mochila.
Olhei suas roupas.
A jaqueta que tanto gosto.
Queria ser breve, mas  estava difícil.
Tirei ela do cabide, e vesti.
Me senti abraçada na mesma hora.
Nada perto da maneira que você faz, claro.

Respirei fundo, e ainda vestindo sua jaqueta, fui pegando o resto das coisas.
Esse quarto era tão nosso...
Como seria daqui por diante?
Quem ficaria aqui? Quem arrumaria a cama?
Eu só conseguia chorar a cada pensamento que tinha nosso.

Eram onze horas. Eu precisava trabalhar. Mas eu não conseguiria.
Minha cabeça não conseguiria desviar de você.

Fui saindo do quarto.. Olhei uma última vez pro lugar onde dividimos tantas coisas.
Onde eu chorava no seu colo, onde dormíamos abraçados, onde tínhamos noites quentes
com horas de sexo intermináveis... O quarto é seu, mas eu olhava sentindo que um pedaço meu estava ali, e eu não poderia levá-lo

Chorando voltei até a cama e sentei nela. Chutei minha mochila pro chão.
Não queria ir embora. Ninguém escolhe essas coisas.
Juntei meus joelhos perto do rosto e abracei as pernas.
Olhava ao redor, com medo, sozinha, insegura.

Estava desprotegida.  Seu sorriso não consegue sair da minha mente.
Meu peito estava tão apertado que eu mal conseguia respirar.

O fim chegou pra nós tão violento, abrupto.. E eu nunca o quis.

Eu seria capaz de entender se fosse um término comum. Como tantos que tivemos.
Mas dessa vez, eu sei que não tem volta.
E é isso que nunca vai deixar de doer em mim
Se todas as vezes que te perdi em vida já me doeram...
Imagine para a morte...

E eu fiquei aqui...

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