O celular
não atendia. Desisti de tentar. Já devia ser a trigésima chamada. Ou mais.
Eu tenho esse problema. Não sei aceitar bem as
coisas. Parece que até eu entender, eu ajo como se nada tivesse acontecido.
Há alguns
dias as coisas não estavam bem.
Brigas,
dor, lutas, dificuldades.
Hoje me
peguei chorando.
Arrependida
por tantas coisas que disse, e que ouvi também.
Quando tem
um ponto final, sempre é um impacto forte.
Mas eu
queria voltar atrás, ou poder seguir, qualquer coisa.
A inércia
estava me matando.
Estava na
porta do prédio dele.
Rodava o
chaveiro nos meus dedos.
Estava sem
coragem pra subir.
Ele havia
me dado a chave, para o nosso conforto, dizendo que se um dia,
acontecesse
alguma coisa, eu poderia estar segura ali.
Me
perguntava agora se poderia achar segurança lá.
Mais uma
lágrima escorreu.
Respirei
fundo.
Entrei.
Passei
direto pela portaria.
O porteiro
estava cansado de me ver ali.
Chegava de
madrugada, cedo, tarde...
Me deparei
com o elevador e veio uma lembrança nossa.
As diversas
vezes que eu reclamava de quando você tentava me agarrar
durante a
rápida viagem do primeiro ao quarto andar. Eu ficava envergonhada só de pensar
na
possibilidade de algum vizinho seu pegar o elevador e nos flagrar.
Um meio
sorriso brotou, seguido de mais choro.
Tudo que eu
queria era você ali, me agarrando nesse momento.
Saltei no
quarto andar. Estava escuro. Acho que alguma luz queimou.
Não
costumava ser assim ali.
Do corredor
mesmo senti o cheiro do seu apartamento.
Um cheiro
amadeirado.
Era uma
mania sua. Sempre colocar o perfume, com pressa, pouco antes de sair.
Impregnava
a sala.
E agora me
invadia.
Me invadia
de saudade.
Coloquei a
chave na porta receosa. Queria apenas buscar algumas coisas.
Seria
rápida.
Lembrei das
várias vezes que você esqueceu a chave na porta, e eu não consegui entrar,
e ficava me
provocando, me deixando trancada do lado de fora, enquanto eu dava chiliques.
É curioso
como essas pequenas coisas marcam tanto.
Rodei a
chave. O apartamento se revelou para mim.
Roupas jogadas
na sala. Janela entreaberta. livros espalhados.
Eu não
sabia mais o que eu fui fazer ali.
Por um
segundo eu lembrei da nossa última briga e tive vontade de sair correndo de lá.
Mas não
consegui. Estava paralisada.
Passei pela
sala e fui para o quarto.
Seu perfume
estava vívido ali.
Cheguei no
quarto e vi a cama desarrumada.
Não esperava
mesmo vê-la arrumada.
Era eu, quando
estava na sua casa, quem a arrumava pra você.
E agora?
Como seria?
Sentei na
cama que chamávamos de nossa.
Deitei a
cabeça no travesseiro, com dor no coração.
Na cadeira
estava o meu vestido floral que você amava me ver usando.
Ele devia
estar ali desde a última vez que eu estive aqui.
Antes de
tudo isso.
Entre
lágrimas abri o seu armário e fui pegando todas as minhas coisas.
Roupas,
cremes, perfumes...
Achei uma
foto nossa.
Em um
aniversário. Você fazendo careta.
Lembro
quanto me irritava quando você fazia isso.
Mas a foto
ficou realmente boa.
Levarei ela comigo.
Coloquei no meio das roupas que eu enfiava na mochila.
Olhei suas
roupas.
A jaqueta
que tanto gosto.
Queria ser
breve, mas estava difícil.
Tirei ela
do cabide, e vesti.
Me senti
abraçada na mesma hora.
Nada perto
da maneira que você faz, claro.
Respirei
fundo, e ainda vestindo sua jaqueta, fui pegando o resto das coisas.
Esse quarto
era tão nosso...
Como seria
daqui por diante?
Quem
ficaria aqui? Quem arrumaria a cama?
Eu só
conseguia chorar a cada pensamento que tinha nosso.
Eram onze
horas. Eu precisava trabalhar. Mas eu não conseguiria.
Minha cabeça
não conseguiria desviar de você.
Fui saindo
do quarto.. Olhei uma última vez pro lugar onde dividimos tantas coisas.
Onde eu
chorava no seu colo, onde dormíamos abraçados, onde tínhamos noites quentes
com horas
de sexo intermináveis... O quarto é seu, mas eu olhava sentindo que um pedaço
meu estava ali, e eu não poderia levá-lo
Chorando
voltei até a cama e sentei nela. Chutei minha mochila pro chão.
Não queria
ir embora. Ninguém escolhe essas coisas.
Juntei meus
joelhos perto do rosto e abracei as pernas.
Olhava ao
redor, com medo, sozinha, insegura.
Estava
desprotegida. Seu sorriso não consegue
sair da minha mente.
Meu peito
estava tão apertado que eu mal conseguia respirar.
O fim
chegou pra nós tão violento, abrupto.. E eu nunca o quis.
Eu seria
capaz de entender se fosse um término comum. Como tantos que tivemos.
Mas dessa
vez, eu sei que não tem volta.
E é isso
que nunca vai deixar de doer em mim
Se todas as
vezes que te perdi em vida já me doeram...
Imagine
para a morte...
E eu fiquei
aqui...