quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Missão Cumprida

Eu ainda vejo o sangue nas paredes.

E eu não consigo chorar.Eu não consigo levantar.
As gotas caem aos meus pés.

Secam.

Poça. Poça vermelha em volta de mim.
Ela reflete.

Ela escorre formando um caminho até um par de pés.
Um passo para trás.
Vermelho.


Sinto dor. Por todos lados.
Dor porque você ficou. Dor porque você se fez. Dor porque você está.
E a dor que eu sinto ficou nas paredes.
E o sangue na minha boca não me deixaria mentir.

A lágrima que eu não permito cair arde.
Machuca dentro do peito.

Que jeito. Amarrada.imóvel.
Sendo observada e ouvindo sobre
as pequenas trágedias dos meus proprios segredos.

E nas paredes tem um cheiro impregnado . Que não é do sangue .Que não é de dor.
É o vermelho com cheiro de uma flor. É um perfume que só eu conheço e que eu conheço bem.

A flor com o perfume que eu quero que exista dentro de toda a dor que aquilo me causa.

E como dói.
É o meu sangue ali.

E é você quem está lá vendo.
Aplaude e ri.
E se vai.

Satisfeito.
Missão cumprida.

sábado, 19 de dezembro de 2009

E mais uma vez as coisas se tornaram claras e simples.
A culpa é sua. Sempre sua.
Ando de um lado pro outro. As mãos na cabeça...
Sinto aquela vontade de chorar que deixa os olhos úmidos. Guardo as lágrimas.
- Cansei. Quero ir embora. Nós fomos feitos um pro outro. Sei que não há ninguém no mundo que vá sentir por você o que eu já senti. Mas pra mim não dá mais. Amor também é querer ver o bem do outro. E eu já não faço mais bem para você.

Olho com raiva. Será você que tá falando isso pra mim.

- E os nossos anos????? E tudo que você mudou na minha vida? Agora é assim????? Vou embora!? Eu não esperava isso nunca. Jamais de você! - Disse segurando as mãos.

- Você vai aprender a viver sem mim. Afastei você das pessoas que você gostava, manipulava você, usava você. Não era isso que você me acusava de fazer? Pois viva sem mim.

-Não! - me joguei no chão - Não posso viver sem você. Você é como se fosse um pedaço de mim!!! Eu..Eu... - Chorando sentada sem conseguir te encarar.

- Adeus. Eu te amo. E sei que vai ficar bem. Mas pra mim não dá mais.

Agarrei o peso de papel na mesa e não pensei duas vezes. Arremessei bem no meio da sua cara.

Ali estava o espelho rachado no meio. Acertei onde queria. Agora duas de mim me encaravam ainda com uma lágrima a escorrer pelo canto da boca. Sabia que ela tinha ido. Passei a mão pela rachadura do espelho tentando encontrar a sua essência, algo que tivesse sobrado daquela outra que ainda pudesse guardar em mim.

Cortei o dedo e fiquei ali sabendo que aquela parte de mim me deixou pra trás.
Sentei na beira da cama e fiquei por horas encarando pensando no que faria dali por diante. Quem eu seria dali por diante.

E há alguns poucos quilometros dali tocava uma música alta, enquanto um homem moreno beijava uma mulher qualquer. Sem culpa, sem pudor. E porque ele teria isso???

sábado, 12 de dezembro de 2009

Por que precisamos de alguém?

Pode acontecer a qualquer hora do dia, de qualquer dia.
Numa sexta-feira as 17 horas numa tarde nublada.
Você decide que não quer mais fazer o que faz, quer mudar de profissão ou trocar de país, mas lembra que pra isso precisa de uma grana que não tem. E nem um passaporte... O sonho fica distante, mas a angústia segue ali dentro de você atazanando você brutalmente. A soluçao está bem na sua frente : O celular.
Você liga pra pessoa que mais conhece você, que decifra melhor suas neuroses, e não é a sua mãe e nem seu psiquiatra: é ele.

Do outro lado da linha, o seu amor ouve pacientemente toda sua narrativa turbulenta e irracional, todas as palavras que você despeja sem controlar a velocidade com que elas saem de dentro da boca num tom de súplica, desespero e inconformismo. Ele dá uma risada. Mas não uma risada de deboche e sim uma risada de quem já viu essa mesma cena duas mil vezes e diz:
"- Daqui a pouco estou aí e conversamos sobre isso."

Daqui a pouco passa rápido e ele chega. Você não está mais pensando exatamente aquilo que estava antes.Aquilo evoluiu para um diagnóstico emocional torturante e assustador: Você não vai trocar de emprego, nem de país simplesmente porque descobriu que é uma pessoa instável e com fraquezas que se revelam numa tarde nublada, e que sendo assim é melhor ficar onde está.
Mas chora. Ele está ali, é impossível não chorar.

Seu amor lhe dá um abraço de urso que faz estalarem sua terceira e sua quarta vértebras, segura você pelos braços com uma mão e a outra afaga seu rosto que cabe todo na mão dele. Ele diz que bom que você não vai embora então que tal um chopp pra comemorar ? Ao se olhar no espelho você se depara com uma mulher mais velha, e 750 ml de lágrimas mais inchada, mas antes que comece a chorar de novo ele diz: Tá linda, vamos.

Durante o chopp você ainda quer conversar. Fica rodando o copo entre os dedos, brincando com os palitos. Mais calma, conta pra ele como é difícil pra você manter as suas escolhas, que o mundo não te entende, que nem você mesma se entende e bebe mais um gole do chopp tentando se calar. Em vão. Começa a explicar que você não se conhece o suficiente e que tem medo das decisões que toma e dos rumos que traça, e jura que não é TPM dessa vez.
Ele diz que sente isso às vezes também, dá um puta beijo daqueles que fazem você esquecer escolhas, chopp, passaporte e diz olhando bem no seu olho:
"- É TPM, sim. Mas não tem importância."

Amor não é mais que isso.

(* Se fluir com você, sorte de nós dois - Tico Santa Cruz ) - Ao som de "Apague a luz - Detonautas Roque Clube